domingo, 26 de abril de 2009

Territórios do Vinho

Sob a orientação gráfica de Maria Adão, contou com a feliz colaboração de Álvaro Siza, Ângelo de Sousa, Armando Alves, Fernando Lanhas, Francisco Laranjo, Graça Morais, Gustavo Bastos, Jaime Isidoro, Joana Vasconcelos, João Cutileiro, José Rodrigues, Júlio Resende e Mónica Baldaque. Foi editado agora, por ocasião dessa magnífica manifestação que reúne no Porto o que de melhor se faz no mundo do vinho e que se chama Essência do Vinho - Porto. A parte que não diz respeito aos meus textos – os desenhos e pinturas que os acompanham e a parte gráfica – resultou num excelente trabalho. Trata-se de uma obra que está ao nível dos melhores territórios do vinho e mesmo dos melhores vinhos…

Já no que respeita às crónicas reunidas neste livro, trata-se de um conjunto de textos que têm em comum abordarem o cruzamento entre a vinha, o vinho e os territórios onde ele é produzido. Qual o papel da vinha na preservação e na manutenção da população e da actividade económica em muitos territórios? Qual o papel do vinho na promoção e na projecção dos territórios onde é produzido? Qual é a mais valia desses territórios para a economia? Como é que o turismo pode beneficiar esses territórios, designadamente através da animação e da revalorização de muitas actividades que estavam em declínio ou mesmo perdidas? Como é que esse papel constitui um elemento de preservação e de valorização das culturas locais e regionais? Quais os elementos de contemporaneidade a que deveremos lançar mão para valorizar o que nos é legado pelos nossos antepassados e transmitir da melhor maneira às gerações vindouras?

Estas e outras questões são abordadas nesse conjunto de crónicas, numa perspectiva transversal, evitando regionalismos bacocos e tentando olhar para os territórios do vinho na sua globalidade, mas também na sua diversidade.

É claro que, por razões diversas, há territórios sobre os quais me debruço mais intensa ou apaixonadamente. Isso acontece de forma quase inconsciente mas, quando necessário, assumida!

Vem isto a propósito de um comentário ao livro que alguém fez e que, apesar de passageiro, tem a sua razão de ser e merece ser apreciado. Dizia esse alguém que “só é pena que se trate de um livro sobre o Douro”.

Ora, nada menos verdadeiro! As questões atrás enunciadas são tratadas de forma transversal, tentando relacionar os problemas dos diferentes territórios do vinho. Sendo o autor do Porto e do Norte de Portugal, tendo profundas raízes no Minho e no Douro e, sobretudo, tendo em conta a força telúrica, humana e cultural em especial desta última região, Património da Humanidade, não pode ser-lhe indiferente. Mais: não pode deixar de estar marcado por ela, por toda a carga que transporta e transmite e por todo o potencial que encerra.

É, por isso, natural que boa parte das análises e dos exemplos partam do Douro. Por isso também é devida a própria dedicatória que o livro leva: “aos anónimos construtores-escultores do Douro Vinhateiro”. Com efeito, a abordagem que faço às questões da preservação e da valorização dos territórios vitivinícolas e do enoturismo não são especificamente sobre o Douro. Mas são, isso sim, muitas vezes centradas na excelência desse território português que tem honras de “cidadão do mundo” - conforme a própria UNESCO declarou em 2001, nada dizendo de novo, mas constatando um facto ancestral. São muitas vezes centradas nas enormes e tão variadas potencialidades do Douro Vinhateiro.

Tanto as regiões do chamado Velho Mundo vitivinícola como as do Novo Mundo têm as suas particularidades que podem e devem ser exploradas. Em todas vemos um grande potencial turístico, com condições para ser explorado. O que geralmente vemos também é uma fraca ou inexistente aliança entre os sectores vitivinícola e do turismo, não tirando o partido devido de cada um para o bem de todos. E esse é um grande desafio que estes sectores têm em mãos. Esse é o grande desafio que as regiões vitivinícolas devem abraçar.

Manuel de Novaes Cabral
Wine 33

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