domingo, 26 de abril de 2009

Os Guardiães da Paisagem



Os seus herdeiros somos todos nós, cidadãos do mundo que, de uma forma cada vez mais globalizada, temos acesso a informação e a possibilidade de viver a experiência única e fascinante de reconhecer esta paisagem desenhada e esculpida por tantos e tantos homens e mulheres anónimos, que não puderam deixar a sua assinatura nas pedras dos muros dos socalcos do Douro – quanto mais não fosse pelo simples facto de não saberem escrever… Os guardiães desta paisagem magnífica são os actuais viticultores, todos aqueles que hoje pegam na enxada para manter as vinhas. Trabalham de sol a sol para preservar as pautas onde os seus antepassados escreveram músicas magníficas para preencher os nossos sentidos. Todo um manancial de património, material e imaterial, vernacular, que nos assombra, que nos esmaga pela grandiosidade desse trabalho simbiótico de Deus e do homem.

A paisagem é, nos nossos dias, um elemento essencial para potenciar o turismo, um turismo cada vez mais motivado por tudo o que gira à volta da vinha e do vinho. E os viticultores são, cada vez mais, os verdadeiros “guardiães da paisagem”. Sem eles, o turismo centrado na vinha e no vinho deixa de fazer qualquer sentido. Perde o seu objecto. A sua actividade, o seu esforço, o seu empenho são a base que permite desenvolver um particular canal de atracção para um turismo que, para além de ter um razoável poder económico, tem vindo a crescer significativamente nos últimos anos. Não podemos centrar-nos apenas nos elementos físicos “strictu sensu” (a vinha, o vinho, as casas, os lagares…). Devemos ter uma especial preocupação com as pessoas, as quais têm de ser valorizadas e ter o rendimento adequado. As pessoas têm de se sentir bem na actividade que desenvolvem, nas suas casas, no seu entorno.

Sem pessoas, não há vinha. Sem pessoas, não há vinho. A paisagem vitícola – elemento “sine qua non” do enoturismo – desaparece. Torna-se um mortório!

O enoturismo, que tem como fundamental elemento motivador e principal a vinha e o vinho, é hoje mais uma oportunidade para a melhoria do rendimento dos viticultores. Uma oportunidade de ouro. Que permite, inclusivamente, aumentar de forma exponencial a capacidade de vender o seu próprio vinho e muitos outros produtos que lhe podem ser, directa ou indirectamente, associados.

À volta do nome de uma casa, de um “terroir”, de um vinho, é possível agregar um conjunto de produtos. O que está em causa é a capacidade que os produtores têm de desenvolver elementos associados à sua actividade, que interessam e que prendem o turista. Por isso, os viticultores não são hoje, apenas, os principais “guardiães da paisagem”. São verdadeiros guardiães do território. Enquanto – e só enquanto – eles se mantiverem no seu posto, em permanente e activa vigilância, poderemos estar descansados, na nossa posição fácil de turistas, meros apreciadores da paisagem. No entanto, para que o passado tenha futuro e o presente faça sentido, deveremos deixar de ser meros espectadores, passando a ser verdadeiros actores, exercendo o papel que de facto é nosso neste teatro da vida. E actores que não se limitam a desencadear emoções nos outros mas que, eles próprios, as sentem no seu dia-a-dia, em particular quando estão nos Territórios do Vinho.

Manuel de Novaes Cabral
blue Wine 30

1 comentário:

  1. Oi Manuel,
    Toca-me suas reflexões sobre o território do vinho. Concordo com seu posicionamento de paisagem cultural x enoturismo.
    Vivo em um região vinícola- Bento Gonçalves- Sul do Brasil, e é ingloria meu posicionamento como Especilista em patrimônbio Cultural Urbano este possicionamento da importância do patrimônio cultural pra o enoturismo.
    Aqui o turismo está preocupado em receber, acomodar e ofertar opções de passeio....

    Sou pesquisadora da Paiasagem cultural viticola, e é um posicionamento quixotesco em nossa região...., espero que por pouco tempo.

    Um grande abraço !

    ARQ. MARILEI
    emgiordani@hotmail.com

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