quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Vinho e a Arquitectura



Assim acontece quando as condições de uma dada zona para a viticultura exigem a adaptação do terreno para melhor permitir a cultura da vinha. No caso da chamada ”viticultura heróica” – quando é feita em condições particularmente difíceis, sobretudo pela inclinação do terreno – obriga quase sempre a uma grande transformação da paisagem. No Douro, temos perante nós um território que, na sua maior parte, nem terra tinha. Montes e montes de xisto rochoso, que foi necessário vencer, criando uma paisagem transformada – esculpida e desenhada – pela força criadora do Homem. A paisagem adquiriu características ímpares, que fizeram dele uma área vitícola única no mundo. A força do Douro é esmagadora! O rio e os socalcos exalam uma enorme força, tornando-se um argumento único na perspectiva do enoturismo. Sobretudo na actualidade, em que os destinos turísticos, os múltiplos destinos do turismo do vinho se digladiam para encontrar elementos de identidade que os diferenciem dos restantes. Nos dias de hoje não basta a paisagem. É necessário ter uma política aguerrida de atracção dos turistas, a qual passa por ter grande qualidade nos diferentes elementos que oferecemos a quem nos visita. Hoje, a arquitectura aparece-nos como um elemento importantíssimo de qualificação do território.

Não é por acaso que grandes marcas cada vez mais apostam em arquitectos de renome internacional para a concepção e o desenho das suas adegas – às quais, ultimamente, associam hotéis, restaurante e os modernos spas. Não há dúvida que a arquitectura é hoje um elemento que faz mover relevantes nichos do turismo internacional. O vinho também. Nada como casar estes dois elementos – o vinho e a arquitectura –, aos quais está associada um imagem de qualidade, para reforçar o apelo ao turismo.

Não é preciso ir muito longe para encontrar grandes exemplos. Na Rioja encontramos exemplos extraordinários. Veja-se apenas obras como as de Frank O. Gehry, com o Hotel Marqués de Riscal; Rafael Moneo, com a Adega Señora de Arinzano, das Bodegas Chivite; ou Santiago Calatrava, com as Bodegas Ysios, do grupo Domecq. Em Portugal, os últimos anos têm sido pródigos: veja-se apenas as recentemente inauguradas Adega Mayor, em Campo Maior, do Grupo Nabeiro, da autoria de Álvaro Siza, ou a Adega da Quinta do Seixo, no Douro, do grupo Sogrape, do arquitecto Cristiano Moreira. Ou ainda as Quintas de Nápoles, também no Douro, de Dirk Niepoort, do arquitecto Andreas Burkhart, a premiada Quinta da Touriga Chã, no Douro Superior, de Jorge Rosas, do arquitecto António Barbosa, ou Quinta do Encontro, na Bairrada, do arquitecto Pedro Mateus. Uns tentam adequar o seu traço à paisagem vitícola que se impõe. Outros tentam impor o seu traço à paisagem. Depende das escolas, das personalidades … e sobretudo da encomenda. É muito importante que o “dono da obra” bem como os poderes públicos que podem condicionar o território saibam o que querem e o que é mais adequado aos interesses do território e ao desenvolvimento da região. Quando isso acontece, tudo se torna mais harmonioso. O arquitecto gosta de deixar a sua marca no território, mesmo quando a ele adequa o seu traço. A nomeada do arquitecto influencia a procura. O produtor procura o arquitecto para diferenciar o seu produto – não apenas o vinho, mas também a marca e a propriedade.

Trata-se efectivamente de um importantíssimo elemento de diferenciação. Pense-se apenas na associação de nomes como o de Frank O. Gehry, Álvaro Siza ou o de Calatrava a um vinho, a uma propriedade, a uma região. Vende, é claro!

Manuel de Novaes Cabral

blue Wine 18

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