domingo, 26 de abril de 2009

Territórios do Vinho

Sob a orientação gráfica de Maria Adão, contou com a feliz colaboração de Álvaro Siza, Ângelo de Sousa, Armando Alves, Fernando Lanhas, Francisco Laranjo, Graça Morais, Gustavo Bastos, Jaime Isidoro, Joana Vasconcelos, João Cutileiro, José Rodrigues, Júlio Resende e Mónica Baldaque. Foi editado agora, por ocasião dessa magnífica manifestação que reúne no Porto o que de melhor se faz no mundo do vinho e que se chama Essência do Vinho - Porto. A parte que não diz respeito aos meus textos – os desenhos e pinturas que os acompanham e a parte gráfica – resultou num excelente trabalho. Trata-se de uma obra que está ao nível dos melhores territórios do vinho e mesmo dos melhores vinhos…

Já no que respeita às crónicas reunidas neste livro, trata-se de um conjunto de textos que têm em comum abordarem o cruzamento entre a vinha, o vinho e os territórios onde ele é produzido. Qual o papel da vinha na preservação e na manutenção da população e da actividade económica em muitos territórios? Qual o papel do vinho na promoção e na projecção dos territórios onde é produzido? Qual é a mais valia desses territórios para a economia? Como é que o turismo pode beneficiar esses territórios, designadamente através da animação e da revalorização de muitas actividades que estavam em declínio ou mesmo perdidas? Como é que esse papel constitui um elemento de preservação e de valorização das culturas locais e regionais? Quais os elementos de contemporaneidade a que deveremos lançar mão para valorizar o que nos é legado pelos nossos antepassados e transmitir da melhor maneira às gerações vindouras?

Estas e outras questões são abordadas nesse conjunto de crónicas, numa perspectiva transversal, evitando regionalismos bacocos e tentando olhar para os territórios do vinho na sua globalidade, mas também na sua diversidade.

É claro que, por razões diversas, há territórios sobre os quais me debruço mais intensa ou apaixonadamente. Isso acontece de forma quase inconsciente mas, quando necessário, assumida!

Vem isto a propósito de um comentário ao livro que alguém fez e que, apesar de passageiro, tem a sua razão de ser e merece ser apreciado. Dizia esse alguém que “só é pena que se trate de um livro sobre o Douro”.

Ora, nada menos verdadeiro! As questões atrás enunciadas são tratadas de forma transversal, tentando relacionar os problemas dos diferentes territórios do vinho. Sendo o autor do Porto e do Norte de Portugal, tendo profundas raízes no Minho e no Douro e, sobretudo, tendo em conta a força telúrica, humana e cultural em especial desta última região, Património da Humanidade, não pode ser-lhe indiferente. Mais: não pode deixar de estar marcado por ela, por toda a carga que transporta e transmite e por todo o potencial que encerra.

É, por isso, natural que boa parte das análises e dos exemplos partam do Douro. Por isso também é devida a própria dedicatória que o livro leva: “aos anónimos construtores-escultores do Douro Vinhateiro”. Com efeito, a abordagem que faço às questões da preservação e da valorização dos territórios vitivinícolas e do enoturismo não são especificamente sobre o Douro. Mas são, isso sim, muitas vezes centradas na excelência desse território português que tem honras de “cidadão do mundo” - conforme a própria UNESCO declarou em 2001, nada dizendo de novo, mas constatando um facto ancestral. São muitas vezes centradas nas enormes e tão variadas potencialidades do Douro Vinhateiro.

Tanto as regiões do chamado Velho Mundo vitivinícola como as do Novo Mundo têm as suas particularidades que podem e devem ser exploradas. Em todas vemos um grande potencial turístico, com condições para ser explorado. O que geralmente vemos também é uma fraca ou inexistente aliança entre os sectores vitivinícola e do turismo, não tirando o partido devido de cada um para o bem de todos. E esse é um grande desafio que estes sectores têm em mãos. Esse é o grande desafio que as regiões vitivinícolas devem abraçar.

Manuel de Novaes Cabral
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Os Construtores do Douro



Foi o Homem que, ao longo de séculos, desenhou essa paisagem. Esculpiu-a. Construiu os terraços em escadarias que se perdem nos céus – mesmo aqueles que estão hoje abandonados, depois das grandes pragas que devastaram o Douro, com a filoxera à cabeça. Transformou o xisto na cama onde as vinhas são plantadas e ganham raízes, absorvendo o calor, a humidade e o alimento de que necessitam para fazer crescer as uvas que são a matéria-prima de vinhos que dão “novos mundos ao mundo”.

Num encontro de culturas foram também rogados muitos espanhóis, sobretudo da Galiza e de Castela, para ajudarem nessa grandiosa obra colectiva. Vieram com as suas famílias. Penaram no esforço de construção dessa paisagem vitícola única. Os seus filhos cresceram nesse ambiente tornando-se, eles também, novos operáriosartistas. Vidas sucederam-se a mortes. Mortes sucederam-se a vidas. Receberam migalhas. Deixaram obra notável que, como é habitual, só foi verdadeiramente valorizada depois da sua morte. Os beneficiários e continuadores da sua arte são outros e de outros tempos.

Estamos perante uma obra que, sendo excepcional, é especial. A sua valia depende sobretudo de dois aspectos: da capacidade que os seus detentores têm para a preservar e das condições para lhe conferir valor acrescentado. A preservação é difícil. O melhor instrumento para que isso aconteça foi conferido em 2001 pela Unesco: a inscrição na lista do Património da Humanidade, como ”paisagem cultural evolutiva e viva”. Contudo, é preciso que os diversos responsáveis se entendam, que saibam o que querem, que acordem nos caminhos que lhes permitirão ganhar o futuro. A obra é colectiva, o caminho é colectivo. Ou não é caminho... A dispersão de objectivos só conduz à perda de capacidade de acção e à inacção.

O desafio é grande, sobretudo numa região que tem demonstrado uma grande dificuldade em se unir em torno de objectivos comuns. Contudo, o que está em causa é demasiado importante para que as pessoas e as instituições se percam em vulgares e estéreis discussões sobre protagonismos balofos. O importante é definir um rumo e seguir em frente, sem hesitações.

As condições para lhe conferir valor acrescentado dependem de todos. Dos indivíduos, das empresas e dos poderes públicos. É um caminho difícil, feito da soma das partes que, neste caso, pode ser bem maior do que a mera soma das parcelas.

Tratando-se de uma paisagem “evolutiva e viva” não pode ser estática. As pessoas não querem viver num museu, paradas, numa espera pasmacenta por eventuais visitantes. Têm de viver, têm de evoluir, têm de criar riqueza. Sem evolução não há preservação.

E a evolução convive bem com novos métodos e tecnologias aplicáveis à viticultura. A modernidade não é incompatível com a tradição. Tem é de ser bem aplicada, bem adaptada. Há que estabelecer, entre a tradição e a modernidade, um diálogo construtivo e enriquecedor.

Estamos perante uma região de quase monocultura, a vinha, hoje considerada como um elemento de grande valia para o turismo, que cada vez mais se quer de qualidade. O turismo é, manifestamente, outro instrumento de desenvolvimento do território.

Temos de ser capazes de complementar essa oferta com variedade de produtos, com animação, com actividades diversas que possam interessar e, por isso, “prender” quem nos visita. Temos de ser capazes de cruzar dinâmicas de oferta multidisciplinares e polifacetadas. Só sendo capazes de o fazer é que estaremos à altura da rica e notável herança que recebemos, a qual temos obrigação de preservar, de valorizar e de transmitir.

Manuel de Novaes Cabral
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Os Guardiães da Paisagem



Os seus herdeiros somos todos nós, cidadãos do mundo que, de uma forma cada vez mais globalizada, temos acesso a informação e a possibilidade de viver a experiência única e fascinante de reconhecer esta paisagem desenhada e esculpida por tantos e tantos homens e mulheres anónimos, que não puderam deixar a sua assinatura nas pedras dos muros dos socalcos do Douro – quanto mais não fosse pelo simples facto de não saberem escrever… Os guardiães desta paisagem magnífica são os actuais viticultores, todos aqueles que hoje pegam na enxada para manter as vinhas. Trabalham de sol a sol para preservar as pautas onde os seus antepassados escreveram músicas magníficas para preencher os nossos sentidos. Todo um manancial de património, material e imaterial, vernacular, que nos assombra, que nos esmaga pela grandiosidade desse trabalho simbiótico de Deus e do homem.

A paisagem é, nos nossos dias, um elemento essencial para potenciar o turismo, um turismo cada vez mais motivado por tudo o que gira à volta da vinha e do vinho. E os viticultores são, cada vez mais, os verdadeiros “guardiães da paisagem”. Sem eles, o turismo centrado na vinha e no vinho deixa de fazer qualquer sentido. Perde o seu objecto. A sua actividade, o seu esforço, o seu empenho são a base que permite desenvolver um particular canal de atracção para um turismo que, para além de ter um razoável poder económico, tem vindo a crescer significativamente nos últimos anos. Não podemos centrar-nos apenas nos elementos físicos “strictu sensu” (a vinha, o vinho, as casas, os lagares…). Devemos ter uma especial preocupação com as pessoas, as quais têm de ser valorizadas e ter o rendimento adequado. As pessoas têm de se sentir bem na actividade que desenvolvem, nas suas casas, no seu entorno.

Sem pessoas, não há vinha. Sem pessoas, não há vinho. A paisagem vitícola – elemento “sine qua non” do enoturismo – desaparece. Torna-se um mortório!

O enoturismo, que tem como fundamental elemento motivador e principal a vinha e o vinho, é hoje mais uma oportunidade para a melhoria do rendimento dos viticultores. Uma oportunidade de ouro. Que permite, inclusivamente, aumentar de forma exponencial a capacidade de vender o seu próprio vinho e muitos outros produtos que lhe podem ser, directa ou indirectamente, associados.

À volta do nome de uma casa, de um “terroir”, de um vinho, é possível agregar um conjunto de produtos. O que está em causa é a capacidade que os produtores têm de desenvolver elementos associados à sua actividade, que interessam e que prendem o turista. Por isso, os viticultores não são hoje, apenas, os principais “guardiães da paisagem”. São verdadeiros guardiães do território. Enquanto – e só enquanto – eles se mantiverem no seu posto, em permanente e activa vigilância, poderemos estar descansados, na nossa posição fácil de turistas, meros apreciadores da paisagem. No entanto, para que o passado tenha futuro e o presente faça sentido, deveremos deixar de ser meros espectadores, passando a ser verdadeiros actores, exercendo o papel que de facto é nosso neste teatro da vida. E actores que não se limitam a desencadear emoções nos outros mas que, eles próprios, as sentem no seu dia-a-dia, em particular quando estão nos Territórios do Vinho.

Manuel de Novaes Cabral
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Sensações do Vinho



Um dos enólogos portugueses mais conhecidos e reconhecidos aquém e além fronteiras, que já teve oportunidade de provar profissionalmente muitos dos melhores vinhos do mundo, disse-me um dia que o vinho que melhor lhe soube em dias de vida não tinha qualquer marca! Depois, em jeito de confidência, espraiou-se em longas e emotivas explicações sobre o local em que isso sucedeu e, sobretudo, as circunstâncias. É claro que, apesar de estar num pequeno restaurante à beira mar plantado, me lembro de ele o ter classificado como “um simpático e tradicional tasco”, estava num momento da sua vida pessoal de grande mudança; a altura do dia, bem como a companhia terão certamente ajudado à apreciação do tal vinho. Acresce que a pessoa em causa, grande conhecedora das coisas do vinho, é invulgarmente despretensiosa…

Não tenho dúvidas de que a apreciação do vinho – como a generalidade das apreciações, graças a Deus! – é carregada de subjectividade e, consequentemente, de um conjunto de circunstâncias de natureza pessoal. Alguns pretendem atribuir foros de “objectividade” à soma de opiniões subjectivas – normalmente resultantes dos chamados painéis de prova. Porém, tenho para mim que uma avaliação subjectiva, por natureza, nunca pode ser objectivada, por mais consensual que seja. No entanto, as revistas da especialidade têm por hábito atribuir pontuações aos vinhos, as quais decorrem normalmente dos resultados dos já referidos painéis de prova. Outras vezes, emergem as opiniões de um ou outro guru da prova, pretensamente com um palato superior, cujas opiniões fazem oscilar o preço do vinho com mais furor do que a bolsa de valores em tempo de crise. O que é que isso vale? Será que umas opiniões (sim, são apenas opiniões!) valem mais do que outras? Manifestamente, sim! Em meu entender e contrariamente à opinião dominante, o principal problema deste fenómeno não é a quase inevitável oscilação do valor do vinho. Não. A questão reside na tentação que muitos produtores têm de, na elaboração do seu produto, o aproximarem dos gostos dominantes para efeitos de prova. Este “movimento” gera um desvirtuar das características próprias dos diversos vinhos. Acentua-se o que muitos chamam já de “parkerização” dos vinhos, em desfavor da “terroirização”. Acentua-se a uniformização dos vinhos, em desfavor da sua identidade e carácter. Os referidos painéis de prova são normalmente compostos por “profissionais”, ou seja, por pessoas que são consideradas especialistas na matéria. Raramente são compostos por simples apreciadores de vinho. Há, desde logo, duas grandes diferenças. Antes de mais, o primeiro grupo – os profissionais – fazem apreciações técnicas. Acredito mesmo (como, penso, eles próprios também) que tentam ser objectivos (!), utilizando matrizes elaboradíssimas e terminologia pouco menos do que inventiva. Os segundos dão apenas conta do seu gosto, da sua apreciação pessoal. Por outro lado, os primeiros têm por objectivo confessado influenciar os compradores. Já os segundos compram. O facto de o vinho estar inequivocamente na moda e ter tido uma impressionante evolução, sobretudo na última vintena de anos, tem óbvios efeitos nos consumidores. O enorme aumento do leque de consumidores traz, também, muita confusão. Quem nasceu na cultura do vinho e foi habituado a beber vinho desde novo, tem um conjunto de critérios para a sua apreciação. Mesmo que não tenha um nariz de excelência, tem memória (os dois factores essenciais da prova). Ao contrário, quem bebe vinho porque está na moda tem outros critérios, normalmente menos estruturados e mais influenciáveis.

Todo este arrazoado tem um só objectivo: sem querer negar que os conselhos dados por personalidades ou por painéis de prova podem ser de grande utilidade, nada substitui as sensações, necessariamente individuais, que o vinho provoca em cada um de nós.

Manuel de Novaes Cabral
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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Totalitarismos ... ou a caminho da democracia do gosto



Neste campo, os últimos 20 anos foram demolidores, sobretudo no que respeita à imposição das castas, dos aromas e dos sabores. Mas, nem tudo foi mau. Aumentou exponencialmente a oferta, bem como o número daqueles que bebem vinho. Há maior qualidade em todas as fases do produto. A influência de alguns ditos “gurus” tornou-se dominante. Quase totalitária. Basta lembrar, apenas a título de exemplo, o nosso bem conhecido Michael Porter e a sua Monitor Company - “é preciso adaptar os vinhos ao gosto do consumidor internacional” - ou Robert Parker, com o seu sistema de pontuação dos vinhos publicado periodicamente na revista Wine Spectator. Se estes personagens tiveram inegáveis efeitos positivos, na divulgação e no consumo do vinho, têm também enorme responsabilidade no caminho feito para a sua uniformização – a que alguns chamam “parkerização” (Alice Feiring). Os consumidores procuram vinhos que correspondam a determinados parâmetros pré-definidos, que tendem a ser cada vez mais universais. É claro que esta atitude é, essencialmente, reflexo da ignorância e do consequente seguidismo. A falta de conhecimento e a dúvida conduzem os consumidores a refugiarem-se na opinião dos outros, sobretudo quando estes são reconhecidos pelos seus pares e, por isso, servem de aval ao seu aparente (mas serôdio) cosmopolitismo.

É conhecida a fórmula da “espiral do reconhecimento”. A afirmação de um determinado e pretenso valor é transmitida através da comunicação social especializada que, à falta de novos valores, vai repetindo, em cópia, as pessoas, as opiniões e as recomendações, num processo de sucessivo reconhecimento. Quando as afirmações são tidas como incontestáveis e universais qualquer crítica torna-se muito difícil de fazer e, mais do que isso, aparece como pouco credível. Em campos análogos, e por razões diferentes, são conhecidos casos desses, tais como a classificação do Guia Michelin para restaurantes ou o recente debate a propósito da cozinha de fusão que ocorreu na vizinha Espanha. Face a este “totalitarismo opinativo”, julgo que podemos enunciar um novo paradoxo aplicável ao sector: nunca houve tantos vinhos no mercado… mas nunca os vinhos foram tão iguais! O toque das trombetas aponta para um determinado sentido. O que é que acontece? Todo o exército se alinha nessa direcção. Até as diferenças outrora tão acentuadas, entre o Novo e o Velho Mundo, se esbatem. De facto, a oferta responde ao mercado, até porque o mercado é seguidista. Contudo, perde-se – e muito! – em originalidade, em diversidade e, acima de tudo, em autenticidade. Esse movimento de resposta à procura ocorre em toda a fileira e não apenas, como poderíamos ser levados a pensar, no que respeita às castas produzidas – sendo certo que neste aspecto reside a principal causa do abandono das castas autóctones, valor maior da tipicidade e da diversidade das regiões produtoras. Os tratamentos enológicos, apesar das limitações ainda existentes, permitem a aproximação do produto aos gostos dominantes. Não podemos esquecer que, de alguma forma, todo o consumidor é um crítico. E, para o ser de facto, precisa de ter uma “cultura do gosto”, o que também se aprende. Quanto mais conhecedor for, maior autonomia crítica terá, pelo que tenderá a procurar outros vinhos, outros sabores, outras combinações. Será mais exigente, procurando e percebendo o casamento entre o “terroir” e o vinho que consome. Para esse efeito, as palavras-chave são: qualidade, conhecimento e autonomia. Nesse estádio, estaremos perante uma verdadeira “democracia do gosto”.

Manuel de Novaes Cabral
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Argentina - Um país à procura de um lugar no mundo do enoturismo



A Argentina foi, desde a segunda metade do século XIX, um relevante produtor de vinho, sobretudo no eixo que se estende de San Juan, no norte, centrado em Mendoza e se desenvolve até Neuquén-Rio Negro, já na Patagónia. É preciso não esquecer a evolução demográfica: o território imenso deste país, em 1869 estava ocupado apenas por cerca de três milhões de habitantes; na viragem do século deu um enorme salto, pois em 1914 tinha oito milhões; hoje ultrapassa já os 40 milhões – cerca de metade dos quais concentrados na província-capital de Buenos Aires. Mesmo assim, a Argentina tem uma densidade populacional baixíssima: 14 habitantes por km2.

Como é evidente estamos perante um país de imigração, sobretudo de origem italiana e espanhola. As tradições mediterrânicas de convivialidade, mas também do cultivo da vinha são levadas e especialmente acarinhadas nos países de acolhimento. É claro que o vinho produzido era de muito baixa qualidade e era consumido no mercado interno na sua quase totalidade, sobretudo na populosa capital – para onde era conduzido na então e ainda existente ligação ferroviária entre Mendoza e Buenos Aires, entretanto desactivada durante a governação de Carlos Menem.

Nos anos oitenta do século passado, o potencial vitivinícola da Argentina é descoberto. Em passos rápidos faz-se o caminho da reconversão – em grande parte com o investimento de capital estrangeiro. Grandes nomes do mundo do vinho estão intimamente ligados a essa reconversão (1). Explora-se até à exaustão a grande casta do país, o Malbec. O terreno e o clima revelam-se adequados para muitas outras castas. Excelentes terrenos permitem fazer excelentes vinhos. Entretanto, milhares de hectares, na maioria de extenso deserto, vão sendo transformados em vinhedos de referência. A paisagem transforma-se. Grande parte das propriedades vitícolas estende-se pelo sopé da imponente cadeia dos Andes. Das regiões mais próximas de Mendoza avista-se o seu mais alto cume, o Aconcágua, com quase sete mil metros de altitude! A paisagem é magnífica! O clima bastante agradável.

A arquitectura também desempenha o seu papel: para além do ordenamento dos vinhedos, projectam-se adegas absolutamente fantásticas, quer pela imponência e arrojo, quer pela integração na paisagem que, só por si, merecem ser visitadas. Preparam-se para receber turistas, muitas delas com pequenas unidades hoteleiras e restaurantes de grande categoria internacional.

Com toda esta matéria-prima como pano de fundo, o enoturismo surge naturalmente como uma promissora solução, não só para a promoção das próprias adegas e dos seus vinhos como, sobretudo, para a dinamização do turismo das regiões envolventes. Assim, depois de alguns anos de experiências e apostas individuais e de diálogo institucional, chegou o momento que as diferentes entidades envolvidas entenderam conveniente e adequado para se prepararem para o futuro. Para o efeito elaboraram uma proposta e estão a desenvolver o trabalho de acordo com o plano por todos aceite. Qual a realidade actual? Quais as debilidades e quais as potencialidades? O que podem aprender com a experiência de outros países?

OS DESAFIOS A ENFRENTAR
Os múltiplos debates em que tive o privilégio de participar, com a intervenção de representantes de todos os agentes que devem efectivamente estar envolvidos neste processo, mostram bem a vontade colectiva de um país e de todas as instituições e empresas no sentido de se colocarem no mercado do turismo, num segmento de importância e de valor crescente e cada vez mais disputado.

Quais são as grandes vantagens que a Argentina pode apresentar no mercado do enoturismo? Não querendo ser exaustivo poderei apontar as seguintes: desde logo, um bom posicionamento da imagem do país; o vinho da Argentina goza já de inegável prestígio no mercado internacional; tem adegas de grande nível arquitectónico, muitas delas abertas ao público com restauração de qualidade e muito boas possibilidades de alojamento; boa combinação entre a paisagem e a cultura, bem como sinergias com outras modalidades de turismo que estão em crescimento (turismo rural, gastronómico, cultural, de aventura…); associação com referências de grande impacto (Patagónia ou Buenos Aires). Façamos agora um exercício semelhante para os aspectos negativos: falta uma “marca chapéu”; distância dos maiores centros emissores de turismo e ligações aéreas difíceis (o que obriga a dar particular atenção ao turismo interno, especialmente com origem em Buenos Aires e ao proveniente do Brasil); difíceis ligações aéreas internas; insuficiente conhecimento da procura; parca oferta de hotelaria de alta qualidade; inexistência de um sistema de sinalização; grande descoordenação dos operadores; pouco cuidado com a envolvente natural e cultural; falta de segurança. Dos aspectos atrás sumariados, e no que ao enoturismo respeita, podemos concluir que a Argentina vitícola é um diamante em bruto. Acrescentaria que a sua lapidação é muito difícil. Contudo, uma vez lapidado – e a vontade nesse sentido é manifesta – o seu brilho vai fazer-se sentir no mercado mundial do turismo relacionado com a vitivinicultura. Do muito que pude observar e das centenas de conversas que tive, julgo ser de sublinhar duas questões. Por um lado, todos os aspectos relacionados com a segurança. De uma forma radical, diria que turismo é incompatível com insegurança. E, nesse aspecto, há muito a fazer, dependendo sobretudo dos poderes públicos a melhoria da situação. Manifestamente, não é agradável, cada vez que se entra numa adega, sentir o peso da segurança privada que os proprietários são obrigados a manter. Tem-se até a sensação de estar numa “ilha de qualidade” e de segurança, completamente fora da realidade – à qual se volta necessariamente no momento da saída, caso não se tenha ido de helicóptero…

Por outro lado, as questões sociais. Voltamos à ideia da “ilha de qualidade”: nas adegas, tudo está bem e é bonito, tudo funciona bem, todos têm bom aspecto, o serviço é óptimo. O mesmo não se passa nas suas imediações. Ao contrário: é vulgar que as estradas de acesso sejam de muito má qualidade, os bairros paupérrimos, os esgotos a céu aberto! Parece evidente que os investidores privados fazem o seu papel, desenvolvendo adegas de grande qualidade – como não é fácil encontrar no chamado velho mundo vitícola - abrindo-as ao público e disponibilizando-se para participar em projectos de enoturismo em benefício de toda a região. Aos poderes públicos compete desenvolver toda a envolvente física, natural e social, pois é absolutamente necessário preservar a paisagem e o ambiente, elementos que, cada vez mais, são considerados essenciais para a existência de um turismo de qualidade. Mas não basta. As questões sociais são também determinantes. Se as pessoas que vivem nas rotas turísticas não viverem bem, não se sentirem confortáveis nas suas actividades, nas suas vidas e não entenderem o que está em causa, não vão receber bem os turistas. E estes não querem apenas ver coisas bonitas. Querem ser bem recebidos e contactar com os habitantes locais. Querem conhecer as suas vivências. Se assim não for estamos a falar apenas de um turismo de nicho, coisa que o enoturismo tende a ser cada vez menos.

Em meu entender estão aqui, nestes factores, os principais e mais difíceis desafios para construir um projecto consistente de enoturismo. Podem chegar a um projecto perfeito, teoricamente sem falhas. Mas se estes aspectos – segurança e questões sociais – não estiveram resolvidos, estaremos perante uma casa sem alicerces: não se aguenta, caindo à mais pequena contrariedade. E não é isso que gostaríamos de ver acontecer na Argentina vitícola!

(1) Sobre a nova realidade da Argentina vitivinícola e a sua ligação ao enoturismo, vale a pena reler o artigo de Nuno Guedes Vaz Pires intitulado “Argentina – a nova estrela do novo mundo” e publicado na edição número 17 da Blue Wine, de Outubro de 2007.

Manuel de Novaes Cabral
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Rotas do Vinho?



Apesar de estar hoje bastante divulgado, o Enoturismo só surgiu recentemente. Por isso, a atenção dada a toda a envolvente da vinha e do vinho teve um enorme desenvolvimento nos últimos anos. O vinho deixou de ser apenas um alimento, passou a estar na moda. Beber vinho às refeições, comentar os diferentes tipos de vinho, as suas características, os diferentes produtores, passou a conferir estatuto social. Mais do que isso, só mesmo sendo produtor de vinho! Daí ao interesse suscitado pelas regiões de produção foi um passo. Faz parte do esquema conhecer em detalhe os pormenores da produção e da evolução do vinho, mas também os produtores, as adegas, as quintas e as variadas regiões onde o vinho cresce e é produzido. Estas regiões, por seu lado, descobriram no vinho um excelente elemento de promoção e de atracção de turistas, não só os que estão especialmente interessados no produto, mas na própria região. Com a iniciativa dos investidores privados, que qualificam as suas propriedades para bem receber os turistas, os agentes de desenvolvimento locais e regionais, públicos e privados, descobrem que o vinho é um importante elemento de desenvolvimento. À sua volta podem abrigar-se inúmeras actividades económicas, desde as que estão mais directamente ligadas às actividades vitícola e vinícola, até às que podem interessar a todo o tipo de turistas: a gastronomia, a hotelaria, o artesanato, a venda e transformação de produtos locais… Estes casamentos entre entidades públicas e privadas, entre os agentes ligados à vitivinicultura e os que estão directamente associados ao turismo e ao desenvolvimento económico, nem sempre são fáceis. Estamos perante mundos que tradicionalmente viveram separados e que nem sempre convivem de forma a estabelecerem relações ganhadoras. No entanto, cada vez há mais experiências interessantes e positivas, das quais se conclui pelo interesse em trabalharem juntos. Voltando às rotas do vinho. No início dos anos 90 estes sectores começaram a trabalhar em conjunto, tendo como objectivo a estruturação de um produto turístico. O sector gosta da segmentação: o turismo do vinho, o religioso, o termal, o aventura, o romântico, o barroco, o contemporâneo… Esquece que o turista, podendo sentir-se motivado por um tema, não gosta de ser bombardeado com informação sucessiva e repetida sobre um tema só! Se vai visitar uma quinta ou adega aí é normalmente fornecida toda a informação de que precisa sobre o plantio e a produção da região, sobre as castas e o tipo de vinho. Não precisa de ter essa mesma informação noutra adega que a seguir visite! Quer história. Quer estórias. Quer aquilo que diferencia aquele local de todos os outros. Mais do que ver coisas, o turista quer ter emoções, quer ser bem tratado, quer ter bom serviço. Daí a importância das pessoas, não só pelo serviço que prestam, como pela forma como recebem o turista, como o seduzem para um tema, para um produto, para uma região e o fazem querer contar essas estórias aos seus amigos, mostrando vontade de repetir a experiência e de a recomendar. De um modo geral, o turista é infiel. Mesmo quando seduzido só mantém vontade de voltar ao mesmo destino durante algum tempo. Quando se aproxima novo período de férias, já está disponível para novas propostas e novas experiências. Por isso – excepto quando nos dirigimos apenas a um público especializado que, por natureza, será sempre constituído por uma faixa muito reduzida – temos de encontrar formas de preparar produtos diversificados, de propor rotas compostas, com o objectivo de “vender” o território, retendo o interesse do turista, motivando-o. As rotas temáticas tiveram o seu tempo. Foram importantes para chamar a atenção para um tema e para estruturar a oferta. No entanto, não mostram adaptabilidade para responder a uma nova procura que é cada vez mais exigente, não só no que à qualidade respeita, como em querer mais em menos tempo!

Manuel de Novaes Cabral
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Ambientes Urbanos e Rurais



À vinha, associamos normalmente os bacêlos, as plantações das mais diversas formas e feitios, o trabalho agrícola, as movimentações sazonais da poda, as sulfatações e as vindimas, as bíblicas parras, as elegantes gavinhas, os úberes cachos de uvas ou os troncos das videiras, que indiciam a sua idade. À vinha associamos também todo o trabalho de surriba destinado a preparar o terreno para a sua plantação e, depois, o tratamento desse mesmo terreno, bem assim como a complexa organização necessária à vindima e o complexo e exigente processo que conduz à produção de vinho, ou seja, o sumo da uva depois de fermentado.

Já ao vinho associamos todo o vasilhame necessário: das dornas às pipas, das cubas aos tonéis, dos garrafões às garrafas. Associamos ainda todo o movimento ligado à armazenagem e exportação, a imensidão de caixas de madeira ou de cartão, bem como todas as questões relacionadas com o “marketing”: como fazer passar a mensagem de uma região, de um produtor ou de um vinho, a publicidade e a rotulagem. Finalmente, a prova, quando o vinho chega ao seu consumidor final, a importância do serviço, do próprio copo, do acompanhamento, da companhia, do ambiente…

Podemos pois dizer que, enquanto a vinha é normalmente associada a ambientes de carácter rural, o vinho anda mais associado a ambientes urbanos. É a separação – necessariamente complementar – que existe também entre a produção e comércio.

Ouvimos muitas vezes falar em “Cidades do Vinho”. Trata-se de cidades que têm no vinho o seu principal produto de afirmação e de promoção. A economia e a cultura locais são marcadas de forma determinante pelo ciclo do vinho. Na ligação ao território envolvente, na estrutura do emprego, no comércio, nos usos e costumes, na simbologia municipal, a vinha e o vinho mostram, com todo o vigor, o seu papel e a sua importância para o desenvolvimento dessas mesmas cidades. Ora, quando os municípios têm num só produto o seu principal elemento motor, dificilmente têm uma dimensão urbana relevante – sobretudo se estivermos a falar de um produto de natureza agrícola e rural (é claro que temos sempre que ter em consideração a enorme variação que existe, de país para país, no que respeita à classificação administrativa). Já quando as cidades têm uma dimensão relevante, mesmo nos casos em que o vinho é uma referência identitária – as cidades do Porto e de Bordéus surgem-nos como os exemplos mais paradigmáticos e talvez únicos no mundo, não só pelas suas especiais características urbanas, como pela sua íntima ligação ao território vitícola que lhes está associado – têm de estar libertas de uma classificação de “Cidades do Vinho”, a qual assenta num só produto. Ou então, esse epíteto é apenas um mero adereço. Com efeito, a dinâmica económica, social e cultural destas cidades adquire necessariamente um estatuto multifacetado e não dependente. Nesse caso, a sua organização e o seu planeamento têm de incluir estratégias diversificadas, animadas por um conjunto eclético de agentes, tornando-se pólos dinamizadores e estruturantes da região. O vinho pode sempre ser um elemento de animação e dinamizador da cidade e da região. Pode até ser um elemento de grande valia, determinante mesmo para a sua projecção no país e no mundo. Tudo depende da sua efectiva adopção pela cidade e pelos seus agentes. O que tanto pode acontecer por condições históricas ou culturais, como pela adopção de políticas voluntaristas nesse sentido.

As povoações – aldeias e vilas, tantas delas hoje elevadas a cidades na apressadamente transformada realidade administrativa portuguesa – que nasceram e cresceram tendo como condicionante um entorno rural e, mais especificamente vitícola são, essas sim e nesse sentido impróprio, “Cidades do Vinho”. Na verdade, penso que, nestes casos, em vez de “Cidades do Vinho”, seria bem mais adequado falarmos simplesmente… em “regiões vitivinícolas”.

Manuel de Novaes Cabral
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Qualidade. De quê?



Colocada a questão naqueles termos, todos somos favoráveis à ideia. O que falta saber é do que é que estamos efectivamente a falar e como pode essa qualidade transformar-se num pilar da oferta que funcione como factor diferenciador e de promoção! Desde logo, qualidade do território. Boas acessibilidades, cidades, vilas e aldeias bem cuidadas, paisagem bem preservada e qualificada, bem como bons serviços: hotéis, restaurante, cafés, turismo de habitação e rural, tal como o comércio e os serviços de saúde. Contrariamente ao que alguns possam pensar, atingir esse patamar não é nada fácil. Não basta o “típico” ou o tradicional… É necessário ter uma oferta de serviços estruturada, diversificada e de grande qualidade, que não só satisfaça o cliente, mas que o motive a voltar e, sobretudo, a recomendar a visita aos seus amigos e conhecidos.

Já no que respeita ao enoturismo, quando falamos em qualidade podemos estar a falar em variadíssimos aspectos: no vinho em si; no seu processo de produção, da vinha ao copo; no seu processo de apresentação, promoção e venda; nas unidades de turismo de habitação ou de turismo rural; nos serviços e produtos associados ao território vitivinícola; nas actividades paralelas que são oferecidas ao turista na região considerada… Poderíamos continuar numa enumeração exaustiva que depressa cansaria o leitor – caso não o esteja já.

Quando uma região vitícola faz a sua promoção, quer vender o quê: o vinho ou a própria região, enquanto destino turístico? Ou as duas coisas? Esta questão – simples, pelo menos na sua formulação – é de resposta complexa. E a complexidade da resposta advém dos diversos interesses envolvidos, nem sempre confluentes, muitas vezes antagónicos. As grandes marcas que estão nos mercados nacional e internacional desenvolvem as suas campanhas com autonomia e particularmente vocacionadas para o produto vinho. No entanto, como têm interesse em vincar a identidade do produto, envolvem frequentemente essas campanhas na “mãe-terra” que o produz. Ora, ao chamarem a atenção para o território de origem, é da maior importância que este corresponda ao nível de qualidade que querem associar ao produto.

É exactamente aqui que o problema maior se coloca: vinhos de grande qualidade produzidos em regiões que não apresentam ao visitante um nível equivalente de qualidade, quer na paisagem, quer na hotelaria, na restauração ou nos serviços. Cada vez mais, quem compra um vinho quer conhecer a sua região de produção, a matéria-prima, o “terroir”. Todos conhecemos exemplos de empresas muito bem colocadas no mercado internacional que transformam as suas propriedades em verdadeiras “ilhas de qualidade”, às quais levam os seus clientes, evitando qualquer contacto com o meio envolvente. Estas “ilhas” são importantes, pois funcionam como um farol e factor de motivação; mas não basta: o seu resultado deve beneficiar a região envolvente e contribuir para a atractividade do território na sua globalidade.

Quer tudo isto dizer que as empresas não podem alhear-se do desenvolvimento e da sustentabilidade das regiões de produção onde se inserem. Por seu lado, estas podem beneficiar muitíssimo da projecção nacional e internacional que essas empresas proporcionam. É, de facto, um casamento de interesse mútuo. A visibilidade que o enoturismo confere nos dias de hoje é muito grande, sendo um relevante factor de incremento da economia local.

Para além dos aspectos já referidos, há muitas actividades que podem ser criadoras de emprego e animar as regiões vitivinícolas. Pense-se apenas nas inúmeras actividades tradicionais ligadas ao artesanato ou à gastronomia – muitas delas a recuperar, por terem entretanto desaparecido. Os dados mostram também que em muitas regiões vitícolas, pequenos e médios produtores vendem grande parte da sua produção na sua propriedade (“cellar-door”), em provas ou a turistas – evitando assim enormes custos de promoção e de comercialização do produto. Para que isso aconteça, é necessário que todos – particulares, empresas, instituições públicas e privadas – remem no mesmo sentido e promovam activamente a qualidade a todos os níveis. O que está em causa é, não apenas vender o produto mas, a partir dele, promover a região, mantendo os níveis de qualidade e de sustentabilidade necessários. Em suma: fazer com que as pessoas se sintam bem no seu território, de preferência a fazer coisas de que gostem!

Manuel de Novaes Cabral
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A Carta do Vinho



O vinho é um valor civilizacional e critério de qualidade de vida. É um bem cultural. É um factor da vida social. É condição para o desenvolvimento económico, mas também para o progresso tecnológico e científico de numerosas regiões da Europa e do mundo.

Comecemos com uma declaração de interesses: o texto acima não é do signatário. Trata-se do texto de abertura da Carta do Vinho. Tem um autor colectivo, a CERV, Conferência Europeia das Regiões Vitícolas, antecessora da AREV, Assembleia Europeia das Regiões Vitícolas e foi aprovada em 21 de Outubro de 1991, na III Sessão Plenária da organização, celebrada em Vilafranca del Penedès, na Catalunha. Numa época em que eram muito acentuadas as diferenças entre os chamados Velho e Novo Mundo vitícola, a Carta do Vinho está particularmente vocacionada para o que se consideravam as especificidades do velho mundo, a Europa. Só aqui o vinho teria identidade própria, um “bilhete de identidade”, com origem num “terroir” específico. Partia-se do princípio de que o vinho teria tido origem na Europa e só aqui poderia ter identidade … e carácter. Tal aconteceria em contraposição com o Novo Mundo. Aí, o vinho só poderia ter um designado “carácter industrial”, sendo indiferente a sua proveniência.

O debate à volta destes dois mundos tem sido duro e prolongado. Contudo, nos últimos 15 anos assistimos a uma verdadeira aceleração da história. Da história do vinho. As regiões do Novo Mundo – que se têm multiplicado e, sobretudo, alargado – passaram de um tempo em que não havia qualquer tipo de limitação à plantação ou às práticas enológicas, para um tempo novo, em que a profissão se organizou e definiu ela própria um conjunto de regras. As suas universidades e os seus centros de investigação desenvolveram fortes competências na área da vitivinicultura, formando enólogos com trabalho de excelência, que entretanto se foram distribuindo pelo mundo. A qualidade do vinho tem vindo a ser apurada, estando hoje ao nível dos melhores. Os territórios vitícolas preparam-se com grande competência para o turismo do vinho, podendo hoje encontrar-se regiões que definem o seu carácter exactamente pela produção e comércio do vinho: o seu desenvolvimento e projecção faz-se através do produto e de todas as actividades que a ele podem ser associadas. As próprias empresas vitivinícolas do Velho Mundo desenvolveram e diversificaram a sua produção no Novo Mundo…

O Velho Mundo, por seu lado, tem feito assentar as suas políticas para o sector num vasto conjunto de limitações: à plantação, às práticas enológicas, à irrigação… Hoje, a reforma da OCM, Organização Comum do Mercado do Vinho, ruma em sentido contrário! Ao mesmo tempo que vão diminuindo as fortes limitações de ontem, a Europa abre as suas portas aos competentes enólogos originários do Novo Mundo. Acolhe concursos monovarietais. Negligencia, em tantos casos, o enorme potencial das castas autóctones – quando vemos regiões do Novo Mundo a assumirem as suas próprias especificidades no que às castas respeita, como acontece com a Malbec, em Mendoza, na Argentina. O mercado é cada vez mais aberto, global … e exigente. Quer qualidade em toda a cadeia do produto e também na sua região de origem. Quem tem a sorte de conhecer regiões vitícolas pelo mundo fora, do Velho e do Novo Mundo, sabe bem que em todo o lado se encontram regiões com qualidade – de excelência, mesmo – e regiões sem qualquer tipo de qualidade. O mesmo se passa com os vinhos. O que significa que a diferenciação se faz exactamente pela qualidade global e, cada vez menos, por áreas geográficas. O que quer dizer que a Carta do Vinho – ou, pelo menos, as ideias nela expressas – tem cada vez menos um cariz europeu, sendo cada vez mais universal. Nem sequer se argumente com o facto de o vinho ter origem na Europa! Aliás, parece certo que teve origem no mediterrâneo oriental. Conhecemos descrições do seu cultivo e consumo no antigo Egipto. A Bíblia fala, por exemplo, nos vinhos de Israel e de Damasco. Tudo na margem sul do “mare nostrum”…

Já no que respeita ao dito Novo Mundo, não podemos deixar de sublinhar algo que é muitas vezes esquecido: a cultura da vinha foi disseminada pelos colonos europeus nos novos territórios, não apenas para consumo próprio, mas sobretudo por motivos religiosos, por ser um elemento essencial à celebração litúrgica. Afinal, um motivo principal que levou os europeus à primeira era global da nossa história.

Manuel de Novaes Cabral
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O Vinho e a Arquitectura



Assim acontece quando as condições de uma dada zona para a viticultura exigem a adaptação do terreno para melhor permitir a cultura da vinha. No caso da chamada ”viticultura heróica” – quando é feita em condições particularmente difíceis, sobretudo pela inclinação do terreno – obriga quase sempre a uma grande transformação da paisagem. No Douro, temos perante nós um território que, na sua maior parte, nem terra tinha. Montes e montes de xisto rochoso, que foi necessário vencer, criando uma paisagem transformada – esculpida e desenhada – pela força criadora do Homem. A paisagem adquiriu características ímpares, que fizeram dele uma área vitícola única no mundo. A força do Douro é esmagadora! O rio e os socalcos exalam uma enorme força, tornando-se um argumento único na perspectiva do enoturismo. Sobretudo na actualidade, em que os destinos turísticos, os múltiplos destinos do turismo do vinho se digladiam para encontrar elementos de identidade que os diferenciem dos restantes. Nos dias de hoje não basta a paisagem. É necessário ter uma política aguerrida de atracção dos turistas, a qual passa por ter grande qualidade nos diferentes elementos que oferecemos a quem nos visita. Hoje, a arquitectura aparece-nos como um elemento importantíssimo de qualificação do território.

Não é por acaso que grandes marcas cada vez mais apostam em arquitectos de renome internacional para a concepção e o desenho das suas adegas – às quais, ultimamente, associam hotéis, restaurante e os modernos spas. Não há dúvida que a arquitectura é hoje um elemento que faz mover relevantes nichos do turismo internacional. O vinho também. Nada como casar estes dois elementos – o vinho e a arquitectura –, aos quais está associada um imagem de qualidade, para reforçar o apelo ao turismo.

Não é preciso ir muito longe para encontrar grandes exemplos. Na Rioja encontramos exemplos extraordinários. Veja-se apenas obras como as de Frank O. Gehry, com o Hotel Marqués de Riscal; Rafael Moneo, com a Adega Señora de Arinzano, das Bodegas Chivite; ou Santiago Calatrava, com as Bodegas Ysios, do grupo Domecq. Em Portugal, os últimos anos têm sido pródigos: veja-se apenas as recentemente inauguradas Adega Mayor, em Campo Maior, do Grupo Nabeiro, da autoria de Álvaro Siza, ou a Adega da Quinta do Seixo, no Douro, do grupo Sogrape, do arquitecto Cristiano Moreira. Ou ainda as Quintas de Nápoles, também no Douro, de Dirk Niepoort, do arquitecto Andreas Burkhart, a premiada Quinta da Touriga Chã, no Douro Superior, de Jorge Rosas, do arquitecto António Barbosa, ou Quinta do Encontro, na Bairrada, do arquitecto Pedro Mateus. Uns tentam adequar o seu traço à paisagem vitícola que se impõe. Outros tentam impor o seu traço à paisagem. Depende das escolas, das personalidades … e sobretudo da encomenda. É muito importante que o “dono da obra” bem como os poderes públicos que podem condicionar o território saibam o que querem e o que é mais adequado aos interesses do território e ao desenvolvimento da região. Quando isso acontece, tudo se torna mais harmonioso. O arquitecto gosta de deixar a sua marca no território, mesmo quando a ele adequa o seu traço. A nomeada do arquitecto influencia a procura. O produtor procura o arquitecto para diferenciar o seu produto – não apenas o vinho, mas também a marca e a propriedade.

Trata-se efectivamente de um importantíssimo elemento de diferenciação. Pense-se apenas na associação de nomes como o de Frank O. Gehry, Álvaro Siza ou o de Calatrava a um vinho, a uma propriedade, a uma região. Vende, é claro!

Manuel de Novaes Cabral

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Jardins Suspensos



A videira a quase tudo resiste: a temperaturas infernais e ao maior rigor da invernia (como se diz no Douro: “nove meses de Inverno e três de inferno”), tanto cresce em bons terrenos como nos mais arenosos, na lava ressequida de extintos vulcões ou no solo pedregoso, sem terra, dos socalcos do Douro. Há até quem diga que alguns dos melhores vinhos são produzidos nos terrenos mais difíceis… À vinha associamos normalmente a actividade económica que lhe é inerente, sobretudo através da produção e do comércio do vinho, mas também por via da uva de mesa ou, em menor escala, da uva-passa ou da transformação industrial em doçaria diversa. Contudo, a vinha tem uma mais-valia superior, que advém da sua capacidade de resistência aos solos e aos climas mais adversos: mantém a presença humana, através do seu cultivo, da sua transformação e do seu comércio, nas regiões mais inóspitas e impedindo a sua desertificação. Os dois factores evocados – a capacidade de resistência e a exploração económica – são determinantes para o combate à desertificação em numerosas e extensas áreas do planeta. Apesar de termos exemplos desta situação no território nacional (basta pensar nalgumas zonas do Alentejo, do Algarve, da Península de Setúbal e do próprio Douro), a sua extensão em nenhum caso é de relevo maior: podendo causar alguma perturbação local ou sectorial, não constitui uma preocupação nacional. Porém, mesmo à porta de casa temos um caso de grande relevo, pelo menos ao nível do equilíbrio peninsular: os áridos vinhedos de Castilla-la-Mancha, por muitos considerados como a mais extensa área plantada de vinha da Europa. Trata-se de uma zona de monocultura em extensão, fortemente ameaçada pela desertificação que, a acontecer, poderia ter efeitos e consequências imprevisíveis. A vinha é praticamente a única cultura que resiste, mantendo muitas famílias – também elas resistentes! – ligadas à terra e com alguma actividade económica dela decorrente. O abandono desse cultivo equivaleria à desertificação desse vastíssimo território. O que fazer? Por princípio, sou contrário a balões de oxigénio artificiais constituídos por recursos públicos distribuídos com pouco critério e sem estarem suficientemente sustentados em estudos de carácter económico e social. Não obstante, não podemos deixar de ser sensíveis à vida de tantas pessoas nestas condições tão difíceis, à necessidade de manter o território cultivado e, ao fim e ao cabo, aos efeitos que essa actividade tem junto da comunidade, de todos nós. A expressão “viticultura heróica” tem sido utilizada para classificar a actividade desenvolvida em condições particularmente difíceis, sobretudo pela inclinação do terreno e pelas dificuldades físicas. No entanto, face às condições descritas, tenho poucas dúvidas em utilizar essa tão expressiva definição àqueles que teimam em manter-se nesta actividade em condições também tão difíceis. Creio, pois, que é necessário encontrar formas de apoio – que não devem passar pelos meros subsídios, quase sempre redutores e criadores de condições artificiais e não sustentadas de mercado – a quem teima em desenvolver a sua actividade nestas condições dificílimas. Uma parte do seu esforço e investimento reverte para a comunidade, pela manutenção do equilíbrio do eco-sistema em vastas áreas do território. Por outro lado, uma visão integrada do território ajudaria a encontrar formas complementares de aumentar o rendimento – através, por exemplo, do enoturismo e do conjunto enorme de actividades que lhe estão associadas. A própria paisagem, em si, é cada vez mais um bem económico de primeira valia. Por isso, intitulei desta forma o presente artigo – “jardins suspensos” – pedindo emprestada a expressão a Jaime Cortesão, que tão bem a aplicou ao Douro: “… e o que fora a montanha deserta, tornou-se em jardins suspensos.”

Manuel de Novaes Cabral
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Dois Desafios


Numa era de globalização, as especificidades dos territórios são uma mais-valia que apoia a sua identidade, o seu desenvolvimento e a sua competitividade. Quando esta especificidade é um produto como a vinha e o vinho, torna-se um recurso económico multifacetado que pode ser trabalhado por diferentes sectores. A relação virtuosa entre o sector vitivinícola e o sector do turismo foi já afirmada por diversos especialistas da Gestão e da Economia. Foram promovidos, apresentados e divulgados estudos que o confirmam. Os territórios permitem explorar um segmento que comporta um grande potencial de crescimento, quando comparado com outros do mesmo sector. Em Portugal, as relações entre estes dois sectores cresceram muito nos últimos anos, sendo a realidade de hoje claramente diferente da de ontem. O diálogo e as pontes entre ambos são cada vez mais frequentes mas, por vezes, divergem, não se conseguindo um resultado que afecte da forma mais positiva o território e os agentes que nele operam. As rotas do vinho são, talvez, o resultado mais evidente desta relação. Durante anos, viveu-se com entusiasmo a estruturação de rotas, estabelecendo percursos, recuperando património, diversificando serviços prestados e transformando a forma de bem receber num recurso alternativo e de fortalecimento da marca do vinho produzido e comercializado, abrindo mercados e criando consumidores. Foi um tempo de entusiasmo, em certos casos de retorno às origens, a que muito deve o estado actual de coisas. Há, em todo este processo, uma questão que não foi devidamente esclarecida: as rotas são parte integrante do sector agrícola ou do turismo? Não se pense que esta é uma questão menor; da sua resposta dependem, designadamente, a definição de políticas e de financiamentos. Em minha opinião, as rotas são transversais e permitem responder a um conjunto de questões. As rotas são cultura, porque estamos a preservar parte significativa do património construído, natural e paisagístico; são ambiente, porque estamos a contribuir para a sua preservação e para o ordenamento do território; são economia, pois estamos a melhorar a prestação de um sector essencial e, ainda, a manter a população em áreas do território a caminho da desertificação; e, por tudo o que precede, são também defesa nacional. Um dos problemas de estarmos perante um tema tão abrangente é, exactamente, a falta de uma voz na sua defesa, pois a agricultura é só parte de um todo. Como o turismo. Mas serão actualmente, as rotas do vinho o principal instrumento do enoturismo? O alicerce em torno do qual este segmento se deve estruturar e orientar? No actual contexto mundial e face a um novo perfil de turistas e a um ambiente concorrencial entre destinos e segmentos turísticos, sou tentado a dizer que não. São um elemento indispensável, nomeadamente no que respeita à estruturação da oferta, mas já não o são em termos de procura. Necessitamos, isso sim, de dar atenção e adaptar estruturas à procura moderna, promovendo o território através de elementos de notoriedade e de entretenimento compósitos e não monotemáticos e garantindo o envolvimento empenhado de todos os agentes. Estamos, pois, perante dois desafios. O primeiro obriga-nos a repensar o enoturismo, posicionando-o e tornando-o um motor de desenvolvimento económico, cultural, social e ambiental. O segundo, obriga-nos a reforçar a competitividade através da adopção de “standards” de qualidade, da promoção do trabalho em rede entre os diferentes órgãos de governo, entre os agentes dos dois principais “clusters” ligados ao vinho e entre o conjunto de serviços que interferem na descoberta do território e da temática. O enoturismo não é apenas uma forma de turismo associada ao sector vitivinícola, mas uma forma de melhor promover o território, isto é as cidades e as regiões, associando-as a uma denominação de origem que o próprio sector promove e que todos devemos preservar.

Manuel de Novaes Cabral
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Emoções

O vinho é um alimento. Mas não é um alimento qualquer. Para além de alimentar o corpo, alimenta também a alma! Mesmo antes de o ser, o vinho provoca os nossos sentidos. A forma como a vinha se relaciona com o território, primeiro suavemente, de maneira quase pueril e, depois, enérgica e vigorosamente, aguentando as situações mais difíceis. O crescimento da vinha e a sua relação com a água. A sua evolução ao longo do ano. As cores das folhas, das hastes e dos troncos das videiras, dos cachos de uvas, desde o abrolhamento à maturação. Os aromas, especialmente associados a algumas castas. Os sons, como o do vento a atravessar a rede mais ou menos densa das ramadas. As folhas, com os seus diversos tons de verde ou coloridas de impressionantes vermelhos, amarelos e castanhos, a bordejar as latadas ou a atapetar o chão. As elegantíssimas gavinhas, a desenhar na natureza ou a abraçar firmemente os arames… O tempo das vindimas é uma festa para os sentidos. Todos. A roga do pessoal necessário para esse trabalho, apelando à parentela e às relações sociais. O trabalho no campo, da apanha dos cachos ao carregar dos cestos. O transporte das uvas, desde as vinhas até aos lagares – verdadeiros cenários de um ritual de passagem, onde a uva se transforma em vinho. A animação da pisa: as cores, a música, as canções, os piropos e insinuações, os aromas intensos, as comidas e as bebidas, os abraços, as danças… A maturação do mosto nos lagares com a continuação do extraordinário trabalho da natureza: quem não se impressiona com o enérgico sussurro do mosto a ferver? Todo o trabalho de envasilhar o mosto, de acordo com os processos mais adequados a cada tipo de vinho… Engarrafar o vinho constitui mais um momento de encontro, de partilha e de festa. Sendo adequado acontecer em épocas mais frias, tal como a matança do porco, aconselha a um casamento feliz entre o reco e o vinho novo…
A cerimónia da abertura da garrafa – não falando já nas tão especiais aberturas a quente do Vinho do Porto ou dos espumantes e champanhes com o sabre. A rolha, com todas as particularidades e o aroma da sua parte inferior, que mantém a maior intimidade com o vinho…
A prova. Primeiro, a cor, incluindo a limpidez e a transparência. Depois, o nariz, com toda a envolvência de aromas devidamente encaminhados por um copo adequado. Finalmente, a boca que nos dá a prova final. A memória faz-nos relacionar os sinais que nos chegam pelos diversos sentidos com todas as reminiscências que temos do passado, não só em provas de outros vinhos, mas de toda a nossa vida…
As imaginativas e inesgotáveis “rodas” das cores, dos aromas ou dos sabores em nada substituem as nossas impressões, dadas pela nossa própria análise, pelos nossos próprios sentidos, provocando as nossas emoções. A escolha do vinho adequado a um determinado prato, ou de um prato que pede um certo vinho. O acompanhamento e a companhia – se há bebida que não apetece tomar sozinho é exactamente o vinho que é, por natureza, uma bebida de companhia.
Um vinho novo pode trazer-nos muitas emoções. Mas nada substitui a emoção da descoberta de uma garrafa guardada com apego e carinho que, no momento da abertura, se é certo que nos pode desiludir, também nos pode levar a um grande e inesquecível momento, despertando todos os sentidos e conduzindo a grandes encontros, desde que bebido com moderação.
Cabe ao Homem, a todos e a cada um de nós, zelar para que sejam preservadas as condições que permitem a sua boa produção e consumo, em especial os territórios de produção. De resto, a sua comprovada apetência para o turismo, aumenta a sua importância económica, cultural e social, sendo pois uma atitude inteligente velar para que essas áreas sejam dotadas das políticas adequadas com vista a que esse grande objectivo seja cumprido!

Manuel de Novaes Cabral

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"Territórios do Vinho" na Essência do Vinho

TERRITÓRIOS DO VINHO Manuel de Novaes Cabral

A vinha e o vinho assumiram definitivamente uma nova importância no âmbito da economia, do turismo e do desenvolvimento regional.
É exactamente esse papel que constitui o tema do conjunto de crónicas que este livro reúne.

Colaborações de:
Álvaro Siza
Ângelo De Sousa
Armando Alves
Fernando Lanhas
Francisco Laranjo
Graça Morais
Gustavo Bastos
Jaime Isidoro
Joana Vasconcelos
João Cutileiro
José Rodrigues
Júlio Resende
Mónica Baldaque

Contactos para vendas:
+351 222 088 499 • pedrolima@essenciadovinho.com
PVP 23 euros

Edição: Wine – A Essência do Vinho
Parte da receita da venda deste livro reverte para a AMI - Assistência Médica Internacional

www.essenciadovinho.com


Territórios do Vinho

A vinha e o vinho assumiram definitivamente uma nova importância no âmbito da economia, do turismo e do desenvolvimento regional. É exactamente esse papel que constitui o tema que pretendo que seja tratado neste espaço.